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O REENCONTRO COM O REI DO TAHINE

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Cena 1: Anos 1980, Rio de Janeiro. Numa rua pequena e sem saída do bairro de Botafogo, chamada apropriadamente de Rua Hans Staden, localizava-se a CooNatura, cooperativa de produtos naturais, onde eu trabalhava.

 

Éramos uma turma de aproximadamente duas dúzias de pessoas que acreditávamos na força e qualidade dos alimentos puros integrais como base importante para a saúde dos habitantes do Planeta Terra. Sonhávamos acordados e dormíamos sonhando ainda mais!

 

Nesta ocasião, conheci um excelente produtor de tahine integral (pasta de gergelim) do Sul de Minas, em São Lourenço, que criou fama como o “Rei do Tahine” com seu produto raro na época. O nome dele, Túlio Benatti, família de ascendência italiana que se dedicava à produção de um tradicional alimento sírio-libanês!

 

Pois bem, todos admiravam a coragem e determinação daquele sujeito que “se arrastava” desde as Minas Gerais com sua camionete Toyota Bandeirante para trazer caixas repletas de vidros com a maravilhosa pasta de gergelim até o Rio de Janeiro.

 

Ele era um sujeito alegre, sempre bastante animado e com muita energia. Eu inclusive acreditava que boa parte, senão toda, essa disposição era proporcionada pelo tahine que ele fabricava!

 

Cena 2: Anos 2020, Juiz de Fora. Mais de 35 anos se passaram e eu nunca mais soube do Túlio, Rei do Tahine.

 

Eu, Paulo Bittar, já radicado em Minas Gerais, de família com ascendência sírio-libanesa, estava produzindo um tradicional alimento italiano, o queijo parmesão!

 

Foi então que surgiu um novo cliente, com sobrenome Benatti, encomendando peças de queijos pra ele e para um primo. E num é que o primo era o Rei do Tahine, o Túlio Benatti! Santa coincidência! Eu iria novamente encontrar um amigo de longa data.

 

E logo uma dúvida se instalou, será que ele ainda produz o espetacular tahine? Será que ainda é uma pessoa alegre e de bem com a vida? Será que continua amante da Natureza e interessado nos alimentos agroecológicos?

 

Cena 3: 21 de outubro de 2021, Fazenda Serra Boa Vista, Manejo MG. Como de costume neste dia acordei cedo, logo quando o dia se anunciou na Serra da Mantiqueira. Após o café da manhã fui para o laticínio da fazenda onde iria escolher e dar banho em algumas “crianças” para viajar. Chamamos carinhosamente de “crianças”, nossos Queijos da Montanha que são inspirados na receita de fabricação do parmesão, aquele tradicional alimento italiano que já comentei. E uma dessas peças de queijo com um ano de maturação, seria para o meu antigo amigo Túlio, o Rei do Tahine!

 

Eu já sabia que ele habitualmente passava na BR267, estrada asfaltada distante sete quilômetros da fazenda, saindo do interior de São Paulo para visitar sua mãe idosa no interior de Minas Gerais, em Visconde do Rio Branco.

 

Ele também, habitualmente durante um ano, comprou e recebeu nossos queijos através de seu primo Luiz "Bre" em Juiz de Fora, aquele outro Benatti. Mas nesta semana ele gostaria que nos encontrássemos.

 

Combinamos então um encontro num restaurante na BR267, pois a fazenda ainda estava fechada para visitas por conta da Pandemia da Covid19.

 

Eu iria finalmente resolver aquelas dúvidas sobre o tahine e sobre o Rei do Tahine...como estará meu amigo!?

 

Cheguei ao restaurante no horário combinado com o queijo numa sacola, escolhi uma mesa na varanda e sentei à espera do meu cliente amigo.

 

Não demorou e estacionou uma reluzente camionete Toyota Hilux bem ao lado da minha camionete L200, o Boitatá. Desceu um casal com mais de sessenta anos e foram direto para os banheiros localizados externamente ao restaurante, projeto comum aos estabelecimentos em beira de estrada.

 

Pouco tempo depois surgiu meu amigo na extremidade da varanda, há uns 20 metros de onde eu o aguardava.

 

Me levantei para focá-lo melhor e, ao vê-lo se aproximar, já respirei empolgado, pois percebi que ainda era uma pessoa alegre e simpática como há décadas atrás.

 

Conversamos animadamente sobre quase tudo que se passou em nossas vidas nestes trinta e oito anos, em não mais que dez minutos.

 

E mais, ele me atualizou que continua fabricando tahine numa nova fábrica em Valinhos, próximo a Campinas SP, quando em 1988 partiu de São Lourenço com a esposa e três filhos. Levou junto com eles, toda a experiência de um excelente produtor de pasta de gergelim e trocou o nome da marca, de Antares para Sésamo Real, aliás muito apropriado.

 

Ao provar um pote de tahine acrescido com cacau 100% que ele me presenteou, eu pude constatar com muita felicidade que o meu amigo continua sendo uma ótima pessoa e sem dúvida, o Rei do Tahine!

 

Paulo Bittar, outubro de 2021.

 

Nota do Roteirista: o restaurante onde aconteceu o reencontro chama-se Brasão Real e é tudo verdade!